Foi no dia 15 de Agosto de 2006 que Justina conheceu Magnífica, a mulher que, segundo ela, iria conseguir ajudá-la a reconquistar o amor da sua vida.
E foi precisamente quando se sentou e sem ter proferido uma única palavra, que Magnífica olhou para os seus olhos e lhe disse com uma voz serena "Não te preocupes minha filha que ele vai voltar a ser teu", que ela pensou para consigo própria: "Esta mulher sabe tudo, deve ser uma santa ou coisa que o valha".
Pois foi assim que começou a saga de Justina e de Magnífica e as suas desamarrações ... sim, porque Magnífica utilizava apenas o seu dom para fazer o bem, e nunca para obrigar alguém a fazer alguma coisa contra a sua vontade. Claro que isto tranquilizou logo Justina, pois por muito que ela quisesse reconquistar o seu marido, em coisas com galinhas e sapos ela não se metia, pois se há coisa que ela gosta desde pequena é de bicharada.
Desde que se conhece como gente, que Justina levava uma vida pacata. E assim foi, até ao dia em que o azar lhe bateu à porta, mais precisamente quando descobriu que o seu marido de longa data, Zezé, andava enrolado com uma sirigaita já há dois anos.
Mais do que saber que o seu marido andava metido com outra, o que a chocou verdadeiramente, foi o facto de ter descoberto que ele andava enrolado com a mesma já há dois anos, pois isso indicava, sem qualquer sombra de dúvidas, que algum sentimento mais forte existiria entre eles.
Isto porque, já por várias vezes Zezé havia comido fora da gamela, mas sempre com mulheres diferentes, e eram sempre casos passageiros. Agora com uma rafeira como esta, ai isso não, isso ela não lhe admitiria, pois Justina não era mulher de ficar sentada a ver uma flausina qualquer roubar-lhe o seu lugar.
Ainda para mais, com Maria do Rosário, uma "porca que não respeitava o facto de Zezé ser casado, sendo ela própria uma mulher casada e com filhos. O que parecia não lhe fazer qualquer diferença, pois quando ia buscar os seus dois filhos ao ATL, usava sempre saias curtas e decotes e bamboleava-se pela rua como uma badalhoca qualquer que parecia era que tinha falta de peso."
E foi então que Magnífica conquistou a confiança de Justina ao dizer as seguintes palavras "Não te preocupes filha, que pelo que estou aqui a ver através da fotografia do teu Zezé, isto foi uma amarração que essa mulher lhe fez, ou encomendou a alguém, porque eu consigo ver nos olhos dele que o amor dele está é contigo e não com essa mulher. Ele está completamente fixado nela, mas isso é pelo poder do que lhe fizeram e ele está contra a vontade dele. Eu vou tratar disto e vais ver que tudo vai voltar a ser como antes."
E pronto, foi apenas isto que Justina precisou de ouvir para continuar a apostar no seu amor, e diga-se de passagem, a impediu de lhe pôr as malas na rua para que ele as visse bem quando voltasse nessa noite de mais um encontro com a outra porca badalhoca.
Muitos encontros entre Justina e Magnífica se sucederam, um para levar cuecas e peúgas de Zezé usadas, outro para levar cabelos dele que tinham ficado presos no pente (que não eram poucos porque Zezé estava a ficar calvo ... infelicidade a dele de sair ao seu falecido pai que ficou em poucos anos todo carequinha) e ainda outro, para levar uma fotografia de Zezé na qual Magnífica lhe espetou dois alfinetes nos olhos.
Foi nesse momento que Justina hesitou em continuar o serviço, pois uma coisa era querer que ele voltasse para ela de corpo e alma, agora fazer feitiços e magia negra, ai isso não era com ela não, que era católica praticante e ia à missa todos os domingos de manhã.
Contudo, logo logo, Magnifica a tranquilizou, explicando que isto era apenas para que "Zezé não voltasse a querer olhar para a outra."
Dias depois, ainda se encontraram na Igreja do Senhor da Pedra para pedir para que ele desfizesse a amarração e pelo sim pelo não, Magnifica ainda entrou no mar para fazer umas rezas, porque se há coisa que podemos tomar como certa é que trabalho feito no fundo do mar ninguém desfaz.
Umas semanas à frente, voltaram a encontrar-se, mas desta vez, foram no Fiat Uno de Justina, para fazerem as encruzilhadas, cortar caminhos, o que para Justina parecia não fazer qualquer sentido, até Magnífica lhe ter explicado que iam percorrer o caminho de casa de Zezé e Justina até à casa de Maria do Rosário, polvilhando o chão com um pó branco, para que Zezé, sempre que sentisse o impulso de ir ter com ela não conseguisse fazer o caminho.
Se bem que Justina achasse, até então, que Magnífica se estava a esmerar no trabalho, a prova de que realmente estava totalmente dedicada surgiu quando Magnífica se sentiu mal e foi internada "Derivado de uma apendicite aguda". Isto porque mesmo às portas da morte, a mulher, a chamou ao Hospital, para lhe levar uma dúzia de flores, não para meter numa jarra, mas sim para as preparar para serem atiradas ao mar nessa mesma noite.
Claro que com ela internada, a coisa seria bem mais complicada, mas para todos os efeitos, bastava que ela desse as indicações e procedesse às rezas e que Justina finalizasse o trabalho.
Contudo, apesar de tanta dedicação e afinco por parte de ambas, Zezé continuava a sair à noite, supostamente para ir beber um café com cheirinho à sede da Sociedade Columbófila Os Caminhos de S. Roque. Contudo, para Justina, a história estava mal contada, pois por duas noites lá apareceu e ele não estava lá, e a verdade é que se contavam pelos dedos, as vezes que o seu marido a havia procurado na cama desde que o trabalho de desamarração começou a ser feito.
Ora, foi então que Magnífica, numa das visitas de Justina ao Hospital, a mandou comprar um pó numa ervanária, que deveria ser dado a beber a Zezé, sendo "100% garantido que todo o mal que dentro dele houvesse, iria sair, só não seria certo era se sairia por cima ou por baixo".
Contudo, em qualquer das situações, cabia apenas a Justina dizer que tinha sido qualquer coisa que ele teria comido numa das suas saídas à Sede, quem sabe umas bifanas ou uma moelas estragadas, o que convenhamos, até nem seria caso para admirar.
Teria era de se preparar para o momento, pois segundo Magnífica, "houvera quem dissesse que derivado a tomar o produto, vomitasse tudo o que comera durante o dia com cabelos à mistura. Depende do trabalho que lhe houvera ter sido feito"...
Pois Justina assim fez. À noite ao jantar, misturou o pó num copo de vinho e ele bebeu-o todo de golada, que perante um bom copo de vinho, Zezé não se fazia de rogado.
Justina esperou esperou mas nada, o homem nem sequer à casa de banho foi. Posto isto, na noite seguinte voltou a dar-lhe mais uma dose. Esperou novamente e nada ... aliás, o cabrão ainda teve lata de se queixar que estava com o intestino preso e pediu a Justina que no dia seguinte lhe comprasse quiwis madurinhos para ver se lhe fazia algum efeito, e uma caixa de Dulcolax, pelo sim pelo não.
Ao terceiro dia, voltou a tomar mais uma dose, e nada ... Justina bem tinha vontade de lhe dar mais uma, mas Magnífica aconselhou-a do contrário, não fosse fazer algum efeito nefasto e ainda matar o homem com tanto produto...
Pois semanas passaram e nada aconteceu ... bem, pelo menos até ao dia em estava a família reunida à volta da mesa a jantar e Zezé pegou no comando e desligou a televisão. Claro está que começaram logo todos a gritar para voltar a ligar, pois queriam ver a telenovela, mas Zezé nem se pronunciou. Apenas olhou para Justina, e com as lágrimas nos olhos, virou-se para ela e disse: "Tininha, este é o melhor rancho que fizeste desde que nos casamos".
E pronto, foi assim, que de um momento para o outro, as saídas de Zezé à Sede Columbófila diminuiram drasticamente, tendo mesmo Justina confidenciado a Magnífica que "Ele agora procura-me quase todas as noites, e sabe, no outro dia até as luzes acesas ele deixou".
Claro que Magnífica, não quis receber nada em troca, pois ela não é daquelas que trabalha por dinheiro mas porque tem um dom. E o seu dom é também a sua cruz, ajudar os outros.
Quanto a Justina ... essa agora aconselha todas as suas amigas da fábrica a irem a casa de D. Magnífica, pois pelo sim pelo não "Confiar nos homens, tem de ser como dormir com um olho aberto e outro fechado. Eles não são certos, já vai da sua natureza humana de homem."
Quanto às verdadeiras razões para Zezé ter deixado de se encontrar com Maria do Rosário ... ai isso agora é que ninguém sabe realmente ... Se foi da encruzilhada, das flores atiradas ao fundo do mar ou do pó que bebeu que apesar de não lhe ter provocado diarreia ou vómitos, pelo menos há-de ter mexido qualquer coisa lá dentro ...
... ou talvez quem sabe, tenha sido pelo facto de Maria do Rosário, no seu último encontro, lhe ter dito que não o queria ver mais, pois afinal de contas, pelo menos Venâncio, seu marido, nunca a tinha deixado ficar mal, sim, porque isto de não conseguir por duas vezes seguidas ... bem, digamos ... levantar ... levantar ... pronto, seja como for, isso não lhe parecia bom augúrio. Pensando bem, até quase que parecia que lhe tinham feito algum trabalho, e passo a citar "Ó homem tens de ir ver o que se passa contigo, porque até parece que te deram a beber água de cú lavado ..."